Mujeres que no fueron tapa: a representação do ideal feminino e seus mandatos
Entenda como evoluiu o projeto de transformação social que busca interromper com os estereótipos de gênero na Argentina
“Os mandatos vinculados ao ideal feminino estão bastante cristalizados. Embora pareça que houve algum tipo de mudança ou ‘avanços’, tudo isso é reciclado de uma maneira muito eficiente o tempo todo”, conta Lala Pasquinelli, fundadora da organização “Mujeres que no fueron tapa”.
A artivista feminista, advogada e poeta assegura que, nos últimos 50 anos, foi se conformando o que hoje é o dever-ser das mulheres em torno de padrões muito severos: “o ideal de beleza foi capturando o ideal feminino e se constituiu na centralidade de uma exigência muito alta”.
Mas cumprir com padrões de beleza inalcançáveis não é a única faceta que compreende o estereótipo da feminilidade. A respeito disso, a especialista acrescenta: “Continua-se exigindo das mulheres que sejam heterossexuais, que tenham um parceiro heterossexual, que sejam boas filhas, que tenham uma família, que tenham filhos e que sejam ‘boas mães’ no formato de maternidade onipresente”.
As demandas são múltiplas e parecem se repetir o tempo todo. Essa preocupação foi o que motivou a fundação de “Mujeres que no fueron tapa” em 2015, seguindo de um trabalho de colagem que sua criadora estava realizando.
“Tratava-se de uma mostra com instalações construídas com pedacinhos de revistas nas quais se representava esse ideal feminino, homogêneo e inalcançável, que nos educa na submissão. Essa foi a primeira iniciativa que desenvolvemos. Ali se via como os meios de comunicação da época constroem e reproduzem esses estereótipos de gênero, isto é, a construção do ideal feminino”, explica Pasquinelli.
A organização já tem nove anos de trajetória. Hoje, o projeto é integrado por doze mulheres com diferentes níveis de compromisso e diversos trabalhos. Um dos seus projetos mais emblemáticos é a mostra #HermanaSoltáLaPanza (Irmã, Solte a Barriga), uma compilação de imagens e histórias que visibiliza o direito das mulheres de existirem para além da forma dos seus corpos. Este projeto já foi exibido em importantes espaços culturais na Argentina, Roma, Madri e Berlim.
Além disso, sua tarefa cotidiana compreende a oferta de oficinas como “Autoestima com perspectiva feminista”, “Feminismo para ler o presente”, “Hackeamento da maternidade rosa”, entre outras. Também estão organizando o evento “The Hacking Stereotypes Festival 2024“, uma iniciativa para que muito mais pessoas, de diferentes localidades, possam se somar à construção de um olhar crítico sobre os meios de comunicação e a cultura de massa.
Até o momento, a página no Instagram alcançou 481 mil seguidores e possui um alto nível de interação em sua comunidade. Sua fundadora comenta: “Justamente por isso nos chamamos ‘Mujeres que no fueron tapa’, queremos colocar sobre a mesa as vozes e as narrativas que, em geral, não circulam, para isso precisamos de um alto nível de intercâmbio com quem nos segue”.
Se você gostaria de apoiar o trabalho de “Mujeres que no fueron tapa”, acesse este link. Conheça todas as suas iniciativas em sua página web ou no Instagram.