Associação oferece atendimento jurídico e psicológico para famílias atípicas
Associação dos Amigos e Pais dos Autistas de Santa Fé do Sul também realiza palestras de inclusão em escolas da região
Em 2015, Glaucilene Montemor foi mãe pela primeira vez. Com o passar do tempo, ela percebeu que sua filha, Helena, não era igual às outras crianças. Em busca de respostas, encontrou o diagnóstico: Helena é autista nível 1 de suporte. “Na época, não se falava em autismo. Eu não sabia o que era e nunca tinha convivido com uma pessoa com a condição”, recorda.
Diante da falta de informação, Glaucilene começou a pesquisar sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nessa mesma época, surgiu a vontade de se conectar com outras famílias que viviam a mesma situação.
Então, em 2021, o Projeto Girassol nasceu como um perfil no Instagram. Houve uma adesão rápida e, em novembro de 2023, ele se transformou na Associação dos Amigos e Pais dos Autistas de Santa Fé do Sul (Amassol), cidade no noroeste paulista com cerca de 35 mil habitantes.
Glaucilene explica que a entidade tem um olhar voltado para as famílias, oferecendo treinamento e rodas de conversa, além de orientação em questões como tratamentos, direitos, benefícios, acompanhamento escolar e convênios.
“Também reunimos mães de municípios menores para falar sobre o espectro. Temos profissionais que dão cursos para os pais, além de orientação pediátrica, neurológica, fisioterapêutica, entre outros”, conta.
Os encontros acontecem quinzenalmente na sede da associação. Em fevereiro deste ano, aconteceu o primeiro Treino Parental para pais e cuidadores, onde duas fonoaudiólogas, uma psicóloga e uma terapeuta ocupacional deram instruções sobre como brincar e as fases do desenvolvimento. “Também falamos sobre o transtorno do processamento sensorial, como tratar e qual profissional procurar. Os pais puderam tirar todas as dúvidas”. Já em junho, uma nutricionista ensinou a preparação de alguns pratos, tendo a seletividade alimentar como ponto de partida.
Recentemente, a atuação da associação foi ampliada com o Projeto Colmeia, que informa as mães sobre seus direitos e educação, e as capacitando para fiscalizar os serviços prestados pelo poder público. Uma mãe é escolhida como líder e recebe o título de Abelha Rainha.
“Essa foi a maneira que encontramos não só para reunir as mães, mas também para orientá-las. A Colmeia funciona como uma célula da nossa associação, junto com a mãe líder. Além disso, elas conseguem se organizar e formar uma rede de apoio dentro do próprio município.” A primeira reunião ocorreu na cidade de Três Fronteiras, e a previsão é que o projeto se estenda para mais três cidades da região.
A associação também inaugurou sua nova sede e está trabalhando na construção de um jardim sensorial em parceria com o Sindicato Rural. Apesar dessas melhorias, Glaucilene diz que um dos maiores desejos é que a instituição consiga oferecer tratamentos para autistas. “Queremos trazer a terapia ABA (Applied Behavior Analysis), que é uma terapia caríssima e nem todos conseguem pagar”.
Apoio jurídico e psicológico
Segundo Glaucilene, muitos pais chegam sem conhecer os direitos básicos que seus filhos têm garantidos por lei. Por isso, a entidade presta atendimentos jurídicos de forma gratuita. “O Dr. Ricardo Garcia recebe a demanda e abre o processo, quando necessário”. Ela conta que, atualmente, a maioria das ações estão relacionadas ao acompanhamento escolar, como a solicitação de uma professora de apoio ou transporte, e benefícios.
Outro ponto de atenção é com o psicológico dessas famílias. Para isso, há uma psicóloga que atende de forma voluntária. As sessões ocorrem na sede da associação, online ou, em casos graves, na casa do paciente. É cobrada uma taxa social de R$30,00 por sessão e a frequência é determinada pela profissional.
Também há um cuidado especial com as mães. “Tentamos aliviar um pouco o fardo, seja conseguindo uma consulta gratuita em um médico particular, com o suporte psicológico ou na oferta de material. Além disso, temos uma mãe que ajudamos mensalmente com alimentação, pois foi abandonada pelo marido”.
A organização ainda se preocupa em criar uma conexão com essas mulheres e encorajá-las, além de formar uma rede de apoio. “Eu posso proporcionar uma ida ao shopping e vai ser muito legal, mas vai ser só isso. A gente quer oferecer algo que seja permanente, que dure”.
Campanhas de conscientização
Devido às diferentes formas de se comunicar e interagir com os outros, as crianças autistas correm mais riscos de serem vítimas de bullying. Assim, a Amassol faz constantes visitas a escolas, faculdades e comércios para combater o preconceito e disseminar informações.
A organização também é frequentemente procurada por escolas e realiza palestras sobre inclusão. Glaucilene diz que, no geral, a recepção dos alunos é boa, mas sempre há a turma do “deixa disso”, que muitas vezes reflete o ambiente familiar.
“Há famílias que dizem que a criança precisa aprender a conviver com isso, mas não é dessa forma. Acho que ninguém é obrigado a nada nessa vida, não dá para normalizar esse tipo de situação. Então, o trabalho de conscientização e psicoeducação é essencial”.
Além de direcionar as famílias, a entidade quer orientar as crianças autistas, para que saibam se posicionar diante dessas situações.
Saiba como apoiar
A associação se mantém com doações pontuais e através de padrinhos. Também são aceitos voluntários. Para ajudar, entre em contato pelo Instagram.