Primeiro festival de twerk no nordeste acontece em março

O evento acontece com apoio da Lei Aldir Blanc

25.02.22

Crédito: divulgação

Por: Eduarda Nunes / Lupa do Bem – Favela em Pauta

Pioneira no ensino de twerk na capital pernambucana, a Twerk Recife promove o primeiro festival dessa dança no nordeste em março. O evento acontece com apoio da Lei Aldir Blanc, criada pelo governo federal para apoiar artistas que foram profundamente afetados pela pandemia. A programação é completamente online.

O twerk foi criado nos subúrbios de Nova Orleans, nos Estados Unidos, a partir da cultura bounce e do hip hop.  O foco dessa dança está nos movimentos pélvicos e “entre tantos benefícios, podemos citar a alegria e a manutenção da saúde pélvica para quem pratica, além do resgate ancestral de manifestações afro-diaspóricas”, explica Briê Silva, fundadora e diretora da Twerk Recife. 

Twerk Recife

Desde 2018, a estudante de licenciatura em dança na UFPE, coreógrafa e professora internacional de brega funk está à frente da escola de dança que trouxe o twerk para o panorama de danças urbanas na Região Metropolitana do Recife.

O I Festival de Twerk Recife conta com oficinas, salas de conversa, pocket show, batalha e concurso de dança na programação. As inscrições podem ser realizadas aqui. O Concurso Vapo Vapo, de performances de grupo, e a Batalha de Twerk têm premiações nos valores de R$ 750,00 e R$ 1500,00 respectivamente. O público-alvo do evento são pessoas que já fazem parte da cena do twerk no Nordeste e aquelas interessadas em conhecer melhor a dança. Além da prática, muita discussão teórica está inclusa no festival.

Criado por pessoas negras, protagonizado por pessoas brancas

O twerk foi criado por pessoas da periferia de Nova Orleans que acompanhavam o bounce (ritmo) do hip hop com o quadril. Como uma dança pélvica, ela tem similaridades com o funk carioca e o brega funk pernambucano, por exemplo, que também foram criados nas periferias e tem os movimentos pélvicos em mais evidência do que o de outras partes do corpo.

Twerk Recife
Briê Silva, fundadora e diretora da Twerk Recife.

“Isso pode se dar pelo fato de serem danças praticadas por corpos afro-diaspóricos, que tem em sua ancestralidade registros e memórias de manifestações dançantes africanas, principalmente em países da África Ocidental”, relata Briê. Apesar disso, o I Festival de Twerk Recife se destaca por ser organizado por mulheres negras.

O atual protagonismo de pessoas brancas na cena mundial do twerk foi o que impulsionou a pesquisa de Briê e, posteriormente, a criação da Twerk Recife. Ela conheceu a dança aos 13 anos através da mídia televisiva e destaca que “é importante enfatizar que conheci [assistindo] vídeos de pessoas brancas, o que na época me fez questionar e me aguçou a curiosidade sobre a história da dança. Percebi então que a dança já estava passando por um processo de apropriação cultural, e as pessoas que de fato protagonizaram e viviam a cena não tinham o reconhecimento devido”, conta a professora de 22 anos.

A ideia de realizar o I Festival de Twerk Recife foi trazida por Vivian Marvel enquanto ela ainda estava no período de puerpério de sua primeira filha, Luara. Também dançarina, pesquisadora e professora de danças pélvicas, Marvel tinha esse projeto em mente há alguns anos. 

Twerk Recife
Vivian Marvel uma das idealizadoras do Festival Twerk Recife

“A origem do twerk é muito intrínseco da pessoa negra, da corporeidade negra a acompanhar essas sonoridades com o quadril. E quando você, principalmente pessoa negra, está se movimentando com essa corporeidade que é tão enraizada, tão raiz, tão ancestral, você se sente realmente conectada com seu próprio corpo, com tudo o que ele é capaz e todas as potências que isso pode trazer da sua vida. O twerk resgata uma relação de casa e morador com o corpo, dele ser minha casa, capaz de muito e principalmente de me proteger.” (Vivian Marvel)

Ela conta que a principal referência para a realização do evento vem dos festivais e batalhas de dança populares e urbanas que participou e assistiu. Embora já existam festivais de twerk no Brasil e no mundo, a professora conta que a maioria deles são geridos por pessoas brancas. “Eu não queria tomar o mesmo modelo”, conta. 

Além disso, um dos maiores focos do festival é a regionalização e exibição do twerk e das danças pélvicas que estão sendo praticadas na região. A partir do companheirismo e dedicação da equipe, o projeto foi para o papel e, por fim, aprovado. 

As expectativas para o evento é a desmistificação das danças pélvicas. O objetivo é “quebrar o paradigma de que aquilo é proibido, vulgar e promíscuo. Diferenciar o que é sexual de sensual, liberdade de libertinagem”, explica Marvel. “Além de discutir sobre nossas culturais regionais, como o brega funk, que a gente deveria conservar e guardar com tanto carinho em vez de desvalorizar”.

Briê aposta na importância dos registros. “Depois que realizarmos por completo todas as etapas, teremos um material riquíssimo de pesquisa estudo e compartilhamento para que as próximas gerações de pessoas pretas vejam que tem, sim, representatividade de mulheres pesquisando e falando sobre o rebolado”, conta. 

Além do Brasil, A Twerk Recife tem alunas em países como o Chile, Espanha, Canadá e Angola. O I Festival de Twerk Recife acontecerá entre os dias 7 e 11 de março de 2022, e estará disponível nas plataformas YouTube e Zoom. Para se inscrever, clique aqui.

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Autor: Redação - Lupa do Bem
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