Projeto coloca meninas como protagonistas no acesso à tecnologia
Mais Meninas na Tecnologia oferece oficinas temáticas para meninas moradoras da Brasilândia
Segundo pesquisa da TIC Domicílios de 2022, cerca de 36 milhões de brasileiros ainda não têm acesso à internet, sendo que o Sudeste lidera com 42% da população excluída digitalmente.
Diante desse cenário, especialmente nas áreas periféricas, Larissa Vitoriano criou o projeto Mais Meninas na Tecnologia há aproximadamente quatro anos. “Meu objetivo é formar cidadãs interessadas nas ciências exatas”, conta.
Atuando na Brasilândia, zona norte de São Paulo, e com foco em meninas em situação de vulnerabilidade social, o projeto oferece oficinas temáticas, abrangendo desde interação com inteligência artificial e criação de blog posts no WordPress até aulas práticas com canetas 3D, elaboração de planilhas e apresentações no Power Point, além de conceitos básicos de português e matemática. “Tem aulas em que explico física através do jogo Jenga”, acrescenta.
Larissa destaca que o propósito do projeto é também apresentar novas perspectivas, utilizando a tecnologia como aliada e colocando as meninas como protagonistas. Por isso, uma das oficinas aborda a temática dos sonhos. “É para que elas consigam enxergar a possibilidade de serem professoras, artesãs ou astronautas”.
No ano passado, as estudantes tiveram contato com a tecnologia analógica, explorando fotos polaroids. “Elas ocuparam um papel de destaque ao tirarem fotos umas das outras e levarem as suas para casa. O projeto também trata disso: proporcionar protagonismo a essas meninas”.
Em 2023, o Mais Meninas na Tecnologia impactou a vida de 90 meninas, com idades entre 6 e 14 anos. Sem uma sede própria, as oficinas aconteceram em dois espaços parceiros na Brasilândia: o Centro Cultural do Damasceno e a escola de balé Ao Máximo. Não é necessário fazer inscrição para participar.
As oficinas ocorreram aos sábados, entre março e outubro, com três horas de duração, alternando a cada 15 dias entre os dois espaços.
Entretanto, devido à necessidade de captação de recursos, as aulas deste ano estão programadas para iniciar na segunda metade do ano e serão realizadas apenas no Centro Cultural do Damasceno. “Quando falei que ainda não tinha verba para o primeiro semestre, elas ficaram chateadas, mas estão muito empolgadas”, relata Larissa
Projeto nasceu em sala de aula
Formada em jornalismo, Larissa, de 28 anos, cresceu na Vila Nova Cachoeirinha. Apesar de não ter tido acesso à tecnologia na infância, sempre manteve curiosidade pela área. Em 2019, ingressou no mestrado em Tecnologias da Informação, Comunicação e Multimídia, no Instituto Universitário da Maia, na cidade do Porto, em Portugal.
Foi durante uma aula do mestrado que o projeto Mais Meninas na Tecnologia tomou forma. “Durante uma disciplina, eu precisava desenhar um projeto de impacto social relacionado à tecnologia, e uma professora portuguesa disse que ele poderia ir além”.
Com saudades do Brasil, Larissa decidiu concretizar o projeto e submeteu-o ao Programa de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), da Prefeitura de São Paulo, que apoia financeiramente coletivos e projetos culturais em regiões periféricas.
Assim, o projeto teve início na pandemia, com aulas de operações matemáticas básicas na garagem da casa dos pais de Larissa para quatro meninas. “Ele começou a evoluir, e elas quiseram continuar estudando. Tudo isso enquanto eu desenvolvia minha tese de mestrado, que foi o próprio projeto social. Formei 15 alunas na primeira turma”.
Aplicativo Mini Dev
Com o intuito de facilitar o aprendizado das alunas e democratizar o ensino tecnológico, Larissa desenvolveu o aplicativo Mini Dev, disponível na Play Store. Ele ensina conceitos básicos de tecnologia front-end, ou seja, linguagens de marcação em uma página web. Larissa contou com a colaboração das alunas na criação da personagem. “Eu perguntava o que elas queriam ver na personagem, quais características”.
Ampliação do projeto
Outra expansão ocorreu por meio do livro que leva o nome do projeto. Em formato de poema, narra as histórias de outras mulheres na ciência, e a personagem aparece em diversas dimensões. “No final, tem fotos das alunas, e elas ficaram super felizes”.
A prefeitura de São Paulo financiou mil livros, que foram distribuídos gratuitamente em escolas da Brasilândia.
Acesso à cultura
Com o propósito de ampliar os horizontes, o projeto também se preocupa em democratizar o acesso à cultura. “Levamos as meninas para espaços como o planetário do Ibirapuera e o parque de ciências da USP”.
“Vimos que é importante tirar essas meninas da região em que estão inseridas, de extrema vulnerabilidade social, e levá-las para ocupar outros espaços, nos quais elas achavam que nunca iriam pisar”, finaliza.
Como apoiar?
Você pode ajudar o Mais Meninas na Tecnologia comprando o livro, pois toda a renda é revertida para o projeto. A versão digital está disponível na Amazon, enquanto a versão física pode ser adquirida através do Instagram ou pelo site.
Baixe o aplicativo Mini Dev na Play Store.