Instituto Aus Ouvidos promove saúde mental com escuta psicológica online e gratuita

Suporte é disponibilizado para coletivos, projetos, associações e grupos empresariais.

05.07.23

“Levar a essência da escuta profissional para fora do consultório”. Esse é o objetivo do Instituto Aus Ouvidos, idealizado pela psicóloga Denise Abreu e o engenheiro de software Heber Lopes. Com atendimentos pontuais, a escuta profissional é feita de forma gratuita por meio de uma plataforma online. A ideia é promover saúde mental.

O método da escuta profissional, conta Denise, foi inspirado na sua própria trajetória enquanto psicóloga. Anos atrás, em 2018, ela e seu sobrinho Rodrigo de Abreu, que é palhaço, começaram a trabalhar aspectos da saúde mental por meio de encontros nos CRAS e CREAS na região do Vale do Paraíba, interior de São Paulo. Os encontros aconteciam em rodas de conversa, onde eram debatidos temas específicos através de atividades lúdicas. 

As intervenções artísticas mostraram-se ferramentas valiosas ao permitir uma maior conexão com quem precisava de atendimento: “as pessoas podiam interagir e ao mesmo tempo perceber a importância da escuta. Em especial, podiam desconstruir a noção de que um psicólogo só trabalha com questões de enfermidades, patologias ou então ligadas a diagnósticos e encaminhamentos”, diz Denise. 

Com a pandemia, porém, os encontros presenciais tiveram que ser interrompidos. Diante daquele contexto inesperado e desolador, Denise imaginou um tipo de escuta profissional que oferecesse acolhimento e alívio pontual, como alternativa a uma terapia breve ou outro tipo de acompanhamento terapêutico mais alongado. 

“As pessoas da área de saúde estavam convivendo e absorvendo o impacto da COVID-19, sem qualquer garantia, vivendo com aquela iminência da morte, então foi um setor que não teve tempo para elaborar tudo isso, porque eles tinham que trabalhar”, recorda-se Denise. Foi nesse momento que ela teve a ideia da escuta profissional. 

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Instituto Aus Ouvidos. Imagem: reprodução.

O impacto da pandemia na saúde mental

Todo processo terapêutico é feito de uma série de encontros, explica Denise. Cada encontro, porém, é único. E na pandemia isso ficou evidente: “nós nunca tivemos a garantia do futuro. Com a pandemia, no entanto, essa suposição foi de fato concretizada. Foi muito difícil, porque em um dia eu estava atendendo alguém e no outro, esse alguém já não existia mais…”, lembra-se.

Perguntas sobre como lidar com a situação dos lutos, o isolamento, a questão da máscara, o trabalho home office e a escola online foram centrais para pensar em uma abordagem terapêutica diferenciada durante o período, por meio da escuta profissional. 

“Com a pandemia, todos foram impactados, com inúmeras consequências que estão aparecendo até hoje. Mesmo a questão da aceleração do tempo…  quando você conversa com as pessoas sobre a pandemia, parece que foi algo tão longe, não é mesmo?!”, pondera a psicóloga.

O processo da escuta psicológica 

Segundo Denise, a escuta profissional foi uma forma de subverter seu próprio trabalho enquanto psicóloga, porque quando ela faz um processo de análise, dentro de uma psicoterapia, ela vai conhecendo a pessoa aos poucos. “E, de repente, tive que recriar espaços. Daí veio a essência do que é uma escuta, o que é um encontro”, diz.

“Na escuta pontual, não sei quem vou escutar, então não tenho uma prévia, não tem como fazer anamnese, falar por exemplo ‘ah, semana que vem a gente começa, então vamos construir esse atendimento’. É o aqui e agora. E isso me obriga a escutar a pessoa na melhor e maior essência possível do que é o verbo escutar”, explica a psicóloga. 

Do outro lado, continua Denise, a pessoa que está solicitando a escuta, muitas vezes está falando pela primeira vez sobre o assunto com alguém diferente do convívio dela. “E quando essa pessoa pede a escuta, ela conta histórias, memórias… na medida em que a pessoa tem a experiência de falar um pouco dela, ela está falando essencialmente de algo que a toca. Ela se escuta falando, esse é o pontual”.

Assim, durante a escuta, é possível tratar de qualquer assunto. Cada sessão dura 60 minutos. A escuta é feita de maneira individual, por uma equipe de profissionais que atende de forma voluntária. O serviço, contudo, não tem caráter emergencial. Apenas escutas marcadas com pelo menos uma hora de antecedência podem ser agendadas. 

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Instituto Aus Ouvidos. Imagem: reprodução.

Atendimento online e gratuito

O Instituto Aus Ouvidos funciona como uma plataforma de escuta online e gratuita, que atende todas as regiões do país. Para ter acesso ao serviço, é preciso estar inserido em algum coletivo, projeto, associação ou grupo empresarial. A organização faz um cadastro no site e depois tem o acesso liberado para os integrantes daquele grupo específico. 

“A escuta não é um consumo”, avisa Denise. Desse modo, cada uma das organizações cadastradas na plataforma elege um representante do grupo para ser o curador da escuta. Essa pessoa será a responsável pela intermediação entre o Instituto Aus Ouvidos e os integrantes do grupo. 

O papel do curador é importante porque ele leva para o grupo informações sobre o instituto, conta a história do Aus Ouvidos e fala qual é a essência da escuta. Não é um processo de triagem, nem um processo de acompanhamento experimental: “não estamos oferecendo a escuta por meio de uma pesquisa que dura apenas alguns meses”, explica Denise. 

Assim, ainda que os atendimentos estejam previstos para acontecer durante um período pré-estabelecido com determinado grupo, a escuta oferecida pela plataforma é constante.

Ação Coletiva

Para Denise, a escuta deve ser vista como uma ação transformadora dentro do grupo. Por isso, não é possível solicitar a escuta de forma independente. Se uma pessoa ficou sabendo do serviço e quer fazer a escuta, portanto, ela precisa antes estar inserida em algum grupo e então solicitar o cadastro. 

Os grupos não precisam estar formalizados por meio de um CNPJ. É possível solicitar o atendimento para grupos informais. Após o cadastro do grupo, portanto, a pessoa pode acessar as escutas pontuais quantas vezes desejar. “A escuta remete a pessoa a ter contato com algo muito pontual dela, por isso ela não faz disso um consumo, mas uma reflexão, como um ponto de apoio, um despertar”, afirma. 

Nos três anos de atuação, o instituto já atendeu ONGs como Teto e Fundação Amazônia Sustentável, passando por coletivos da Maré, no Rio de Janeiro, grupos de rendeiras em Carapicuíba, até grupos de professores no interior de Pernambuco, Escola Livre de Teatro de Santo André, etc. 

Quer apoiar essa causa?

Visite a plataforma do Instituto Aus Ouvidos.

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Para saber mais, o e-mail é: denise.abreu@ausouvidos.com.br

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Maira Carvalho
Jornalista e Antropóloga, Maíra é responsável pela reportagem e por escrever as matérias do Lupa do Bem.
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