Comunidade quilombola empodera mulheres através da música e das artes

Numa parte do terreno que abriga o antigo Hospital Colônia de Curupaiti, que foi um manicômio e prisão para leprosos, em Jacarepaguá, na zona norte do Rio de Janeiro, nasceu o Quilombo Aquilah, do qual Hosania Nascimento, professora de dança, coreógrafa, arte e educadora, é fundadora e coordenadora executiva

21.05.24

A subida até o Quilombo é bem íngreme, mas a paisagem pelo caminho compensa o esforço. Chegando lá em cima, é uma explosão de verde. O ambiente é tão revigorante que dá vontade de ficar olhando para o céu de árvores o tempo todo. 

Dentro desse quilombo, funciona há mais de 30 anos a Associação de Mulheres Aquilah, da qual a muito simpática e acolhedora Hosania é presidente. 

A associação é um coletivo de mulheres, majoritariamente pretas, mas atende também mulheres de pele clara. A Coluna da Neuza foi recebida para uma entrevista durante a festa de aniversário de Hosania, que foi comemorado no espaço do quilombo, com a presença de muita gente alegre. 

Coluna da Neuza: Por que a defesa e o acolhimento à mulher preta?

Hosania: Nós, mulheres pretas, temos um diferencial: somos especiais por conta de todo o nosso histórico de sofrimento e exclusão. Aprendemos a viver, crescer e evoluir dentro da adversidade. Quando todo mundo diz para nós que não é possível, nós vamos lá e provamos que isso é uma mentira.

Coluna da Neuza: Qual o objetivo do coletivo de Mulher Aquilah?

Hosania: O coletivo trabalha com um só ideal: cuidar da saúde física e mental das mulheres participantes, essa é a nossa missão principal. 

Coluna da Neuza: Quais são as atividades?

Hosania: Aqui nesse território, temos um consultório com clínico geral e algumas outras especialidades como psicologia, geriatria e outros; atendimento jurídico para atender as mulheres e seus familiares. Além disso, contamos ainda com a Casa da Artesã. 

Coluna da Neuza: O que é a casa da Artesã?

Hosania: A Casa da Artesã tem 86 empreendedoras pretas e alguns homens, todas na rede de artesãos. A luta da associação é buscar possibilidades para essas pessoas exporem e venderem seus produtos a custo zero, se possível, ou pelo menos por  um valor que todos possam pagar. Lutamos por políticas públicas e procuramos parcerias para que os artesãos tenham condições de comercializar seus produtos com dignidade.

O foco do coletivo é a mulher preta, mas não é uma condição. Se chegar uma mulher de pele clara e  precisando de auxílio, ela será atendida, porque somos irmãs, todas somos mulheres. 

Saúde física e mental

No local, há uma fisioterapeuta certificada pelo SUS, que também dá cursos, palestras e faz tratamentos holísticos. Ainda são oferecidos auriculoterapia, cromoterapia, acupuntura, reflexologia.

Hosania diz que, embora seja uma associação de mulheres, não é um espaço somente feminino. Por exemplo, nem todas as participantes são solteiras, e os maridos se unem a elas, agregando-se para ajudar nas lutas. 

Apesar de o foco ser a saúde física, mental e espiritual, a associação traz também um segmento dentro da arte, cultura, lazer e do entretenimento.

Sustentabilidade

“Realizamos eventos pontuais como a Feijoada de São Jorge, a Feijoada dos Pretos Velhos, Festas Juninas, Dia da Consciência Negra,  Festa da Cultura Popular, e a sustentabilidade vem da gastronomia vendida durante essas festividades, gastronomia essa que faz parte do Zungu, Guia de Gastronomia Preta da Cidade do Rio de Janeiro”. 

“A associação também realiza uma Roda de Samba mensal com o objetivo de promover e tirar da invisibilidade as pessoas que traçaram e pavimentaram o caminho para hoje o samba ser um gênero musical conhecido nacional e internacionalmente”.

Hosania explica que, antigamente, algumas mulheres anônimas, conhecidas como Pastoras do Samba, traziam os sambas dos compositores dos morros e das vielas para o asfalto e, assim, ficavam conhecidos pelo público.

Na época, as mulheres eram tão poderosas que só desfilavam na Praça XI,  no centro do Rio de Janeiro, com os sambas que  gostavam e escolhidos por elas. Por conta disso, eram tratadas como rainhas pelos compositores. 

Agora, em homenagem, a Roda de Samba se chama Pastoras de Aquilah, e acontece mensalmente no quilombo e em outros espaços

Locais de atuação

A associação atua dentro no Quilombo Aquilah, onde tem a sede principal; no núcleo histórico Museu Bispo do Rosário, na Colônia Juliano Moreira, onde funciona a Casa de Projetos com cursos de capacitação de mulheres, visando a geração de renda como curso de gastronomia, marketing digital, de camareiras entre outros; em Mallet Soares, na rua Francisco Muzzi 286,  funciona uma pequena cozinha experimental para os moradores daquela região. 

Associação de Mulheres Aquilah precisa de seu apoio

Você pode ajudar doando alimentos não perecíveis, principalmente arroz, feijão, açúcar, leite em pó e óleo de cozinha; material de higiene e limpeza, que podem ser entregues às quintas-feiras no quilombo. 

Sua doação vai ajudar a garantir a segurança alimentar de diversas famílias que estão em situação precária.

A instituição precisa também de voluntários na área de Marketing Digital, direcionados para redes sociais e tecnologia em geral. 

Para ver a programação de eventos ou obter mais informações, siga o Quilombo Aquilah no Instagram

    Quilombo Urbano Xica Manicongo
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    Quilombo de Arte Flor de Milho
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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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