Quintal Itinerante usa técnica de palhaçaria para empoderamento de jovens vítimas de Bullying e com dificuldades de aprendizado

Luciana Bertolami, fundadora e presidente do projeto que auxilia crianças e adolescentes, conta como tudo começou.

20.10.22

Em 2004, na primeira semana de aula, houve um incidente entre um colega de sala e Lucas, filho de Luciana, na época com 7 anos, e apesar de os dois estarem errados, só Lucas foi punido. O garoto foi colocado em pé pela professora, sem direito a comer ou ir ao banheiro até o final do turno, que era integral. Não satisfeita, na hora da saída, ela expôs o menino diante de toda a escola, afirmando aos gritos para quem quisesse ouvir, que Lucas era um monstro, um marginal, um futuro bandido e não merecia estar ali e ele só sairia da escola em companhia da mãe. Como Luciana estava trabalhando e quem estava presente para pegá-lo era uma vizinha, ele foi deixado sozinho na escola, encontrado pela funcionária residente por volta das 20 horas. 

A partir desse dia o garoto passou a se comportar agressivamente e hostil. Então Lucas foi encaminhado para diversos profissionais de saúde sendo medicado com remédios fortíssimos. Por sugestão de um desses profissionais começou a praticar natação e balé, mas nada surtia efeito. Até que Luciana encontrou um psicólogo que explicou o comportamento do garoto, ele estava sofrendo Bullyng

No meio desse processo ela conheceu Rogério Rodrigues um mestre palhaço, que realizava trabalhos através da técnica de palhaçaria com crianças “problemáticas”, e Lucas começou a participar. Ele gostou tanto, diz Luciana, que chamava os irmãos e os primos para junto participarem. 

Luciana percebeu que a palhaçaria é uma prática que possibilita a visão dos participantes sobre si mesmos em vários papéis na sociedade, provoca risos, incentiva a resistência e oferece uma saída a quem não sabe para onde ir, além de devolver a auto estima. Os participantes percebem que ali eles são aceitos independentemente de cor, idade, religião ou outra característica qualquer. 

Ela ficou tão apaixonada pelo trabalho realizado por Rogério e com os resultados obtidos por Lucas, que se inspirou na técnica e começou um trabalho com a ajuda dos filhos.

“Comecei no meu quintal, com o intuito de educar através das brincadeiras praticadas pelos nossos antepassados africanos; depois as atividades foram realizadas em diferentes locais e, a cada novo lugar que íamos, mais crianças chegavam. O número de participantes foi aumentando e se tornou o Quintal Itinerante.” 

Luciana diz que o propósito do projeto é trabalhar o Racismo.

Ela afirma que está comprovado que o negro é quem mais sofre com o Bullying no Brasil. Não só como vítima, mas também como vítima agressora, aquele que sofre a agressão e não consegue lidar com a situação e volta para se vingar. Por isso o trabalho é mais focado na questão racial, no empoderamento, no enegrecimento, para que o participante negro possa se posicionar como tal e com orgulho. É trabalhado também a parentalidade, ela entende que a família tem que estar englobada nisso, pois, para que o Bullying seja combatido é necessário a união de forças entre a escola, a família e a sociedade.

“O trabalho é realizado por artistas negros, com histórias negras, elaborado para negros e norteado pela cultura africana. É preciso toda uma aldeia para cuidar de uma criança, a ideia é que a comunidade assuma esse papel,” diz Luciana.

Para Luciana, um dos desafios enfrentados é conscientizar os profissionais de educação e autoridades da importância de se combater o Bullying. Pois, mesmo depois de tantas tragédias, como o “O Massacre de Realengo”, acontecido em abril de 2011, as coisas não mudaram muito. Ela também diz que o projeto tem conseguido convencer as pessoas que o Bullying é realmente letal e o trabalho realizado pelo Quintal Itinerante é visto com mais atenção e seriedade. 

Hoje Lucas é palhaço, músico, cantor, ativista social, historiador e estudante de Sociologia. 

As atividades oferecidas pelo Quintal Itinerante:

Contação de história, reforço escolar, mediação de leitura, oficinas de cidadania, direitos e deveres, artesanato em geral, estética negra, reciclagem e preservação do meio ambiente, introdução à medicina negra, plantio de ervas medicinais e horticultura, sempre através da palhaçaria. Já foram assistidas em torno de duas mil crianças e adolescentes.

Endereço: Estrada Manoel Nogueira de Sá, 643, Realengo, Zona Oeste do Rio.

O Quintal Itinerante precisa de você! Para apoiar, entre em contato com:

(21) 9 6592-6128 – Jéssica

(21) 9 9303-2799 –  Luciana

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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