Socióloga cria curso de conversação em língua estrangeira para trabalhadores de Porto de Galinhas
Projeto “Hablando Lindo” tem objetivo de ampliar as oportunidades aos profissionais de turismo que vivem em Ipojuca (PE), cidade onde fica o distrito de Porto de Galinhas
Crédito das Fotos: Divulgação
Por: Eduarda Nunes / Lupa do Bem – Favela em Pauta
Reconhecida como um dos pontos turísticos mais bonitos de Pernambuco e do Brasil, Porto de Galinhas tem sido cada vez mais visitada por turistas e empresários argentinos. Com a pandemia da covid-19, houve uma pausa na recepção dos ‘hermanos’ nessa parte do litoral sul pernambucano, mas esforços têm sido feitos para que as visitas sejam retomadas e o laço entre Pernambuco e Argentina fique cada vez mais forte.
Nesse contexto, Alyne Nunes, historiadora, socióloga e autodidata na língua espanhola, desenvolveu o projeto Hablando Lindo, um curso básico de conversação em espanhol para os trabalhadores nativos. Essa é uma tentativa de diminuir, minimamente, as desvantagens da população de Ipojuca, cidade onde fica o distrito de Porto de Galinhas, em relação aos postos de trabalho na cidade.
A professora tem uma história de 14 anos com o local. Tudo começou quando passou a dar aula algumas vezes por semana por lá em um curso pré-vestibular comunitário. Há quatro anos decidiu se mudar de vez. E foi assim que as percepções sobre a presença de pessoas da Argentina, do Chile e do Uruguai — hispanofalantes, em geral — na cidade chamou mais atenção.
Ao tornar-se moradora, Alyne enxergou uma cidade que oferecia muita facilidade para a vinda e visitação estrangeira, mas que não oferecia suporte ou alguma proteção para as pessoas nativas, que compõem o serviço técnico da região — tornando-as mais vulneráveis à exploração de diferentes ordens.
Em setembro de 2019, o “Hablando Lindo” começou a ser desenvolvido e, em novembro, aconteceu a primeira edição do curso. Desde o início, o projeto conta com o apoio da ONG Ecoassociados de Conservação de Tartarugas Marinhas, que cedeu o espaço para que as aulas acontecessem.
O curso tem duração de um mês e são quatro encontros ao todo. Contando com as interações das turmas via WhatsApp, porém, as edições duram muito mais tempo. O foco do Hablando Lindo é a conversação e a desempenho. Dentre os estudantes que já cursaram estão jangadeiros, taxistas, trabalhadoras de lojas, restaurantes, hotéis e demais profissionais que se relacionam com a estrutura turística e hoteleira da cidade.
Alyne conta que o principal retorno do curso é o afetivo: os alunos se sentem acolhidos pela didática e metodologia das aulas e ganham mais confiança para se arriscar na língua.
Alguns turistas, sobretudo os argentinos, “têm um hábito muito peculiar de ficar corrigindo. Isso acaba gerando aquela timidez, insegurança. Não existe uma compreensão de tentar entender a comunicação específica do local, entonação, idioma”, revela Girleide Rolim, recreadora de um hotel da região, um dos maiores exemplos do impacto esperado desse curso.
Após as aulas, ela e o seu supervisor puderam perceber uma melhora no atendimento aos hóspedes: Girleide foi promovida a trabalhadora bilíngue, obtendo um aumento salarial e de responsabilidade no hotel.
Desafios: aulas à distância e novos idiomas em vista
Mesmo com a pausa por conta da pandemia, o Hablando Lindo já pôde atender diretamente cerca de quarenta alunos.
Na retomada das aulas, em 2021, havia uma novidade: a iniciativa passou a oferecer aulas de conversação em inglês. De modo completamente gratuito, a ideia é conseguir se expandir. Além disso, existe o objetivo de criar mais módulos em conversação e até a modalidade de ensino à distância (EAD) para conseguir alcançar pessoas de cidades próximas à Ipojuca, que também se relacionam com o município a partir do trabalho. O projeto está aberto a novas contribuições e voluntários.
Até agora o público que mais acessa as aulas é feminino, mas pessoas das mais variadas profissões, como jangadeiros, recepcionistas, taxistas, fazem parte da história do “Hablando Lindo”.