Curta aborda a relação do pescador com o mar
Gravado no final de 2021, "Tazinho: O Homem e o Mar" visa resgatar a diversidade local e fortalecer a cultura em Caraíva, no litoral sul da Bahia
Crédito: divulgação
Por: Gabriel Murga – Lupa do Bem / Favela em Pauta
O curta-metragem “Tazinho: O Homem e o Mar”, produzido pela agência Saruê Cultural, baseada no distrito de Caraíva, município de Porto Seguro (BA), está em fase final de produção e busca apoio por meio de financiamento coletivo.
Gravado entre os meses de novembro de 2021 e janeiro de 2022, o curta-metragem tem como objetivo consolidar um importante movimento, gerando fomento, preservação e resgate da diversidade local. A produção visa fortalecer a proposta cultural do vilarejo de Caraíva, localizada no extremo sul da Bahia.
Preservação da identidade cultural e ambiental na vila mais antiga do Brasil
O território de Caraíva está dentro de uma área de preservação ambiental ligada ao ICMBio e à ResEx Corumbau, fazendo limite com o território indígena Pataxó.
Caraíva é considerada uma das vilas mais antigas do Brasil. Sua população de aproximadamente mil moradores é formada por indígenas da etnia Pataxó, famílias que migraram no início do século 20 e por pessoas que adotaram esta região para moradia.
O trabalho audiovisual em “Tazinho” tem como proposta abordar a relação do pescador com o mar. Em formato de curta-metragem, o filme retrata o olhar simples e profundo de um homem que construiu sua própria relação com o espaço e tempo, conduzindo o espectador a uma nova dinâmica de compreensão do ambiente onde se passa a produção.
A história de Tazinho, uma história de Caraíva
Tazinho, personagem central, é um pescador nativo do vilarejo no extremo sul do Estado da Bahia, localidade onde o turismo se sobrepôs às demais atividades existentes. É com base neste contexto que a narrativa foi conduzida, para mostrar os contrastes entre a gentrificação do vilarejo e o olhar do pescador e profundo conhecedor dos movimentos do mar e da natureza, com suas pausas e contrastes.
Os meses de dezembro de 2021 e de janeiro de 2022 foram escolhidos por serem o período de alta temporada turística, justamente para apresentar com fidelidade a contraposição entre o tempo do personagem e o tempo do lugar.
Em agosto de 2020, a cineasta e videomaker Fernanda Almeida realizou um curta-metragem com a personagem Duca, abordando sua rotina na Vila de Caraíva. Em março do ano seguinte, a produção audiovisual homônima intitulada “Duca” foi finalizada e inscrita em festivais de cinema, dentro e fora do Brasil.
“Duca” é um filme com 9 minutos de duração selecionado para o Lift-Off Global Network Sessions 2021 e o First-Time Filmmaker Sessions 2021, ambos sediados na Inglaterra. Por decorrência da repercussão, veio o desejo e intuito de fazer um registro do personagem Tazinho. O filme “Duca” está disponível na íntegra neste link.
O filme “Tazinho: o Homem e o Mar” será disponibilizado em plataformas de streaming, cujo foco sejam curtas-metragens independentes, como Cardume, Curtaflix, entre outras. O Lupa do Bem conversou com a diretora Fernanda Almeida sobre esses dois trabalhos audiovisuais que buscam valorizar a memória e a identidade cultural da Vila de Caraíva.
Lupa do Bem: qual a importância de filmes como “Duca” e “Tazinho” para a Vila de Caraíva?
Fernanda Almeida: acho que a importância desses filmes é uma questão de preservação da memória, em primeiro lugar, das figuras importantes da Vila, mas também a construção de uma narrativa sobre o passado. A pedra que é lançada no amanhã e que cai ontem. Eu acredito que existe um público em Caraíva hoje. O turismo está muito crescente, e vai crescer ainda mais, eu acredito. O que é bom, porque financeiramente gera uma estabilidade para todo mundo que mora na vila, ninguém se opõe a isso.
No entanto, as pessoas que começam a frequentar a vila agora, e principalmente depois da quarentena, é um público que não tinha elo com a Vila de Caraíva anteriormente, que vem muito por redes sociais, por mídia, por ter assim, “celebridades” na Vila. O filme do Tazinho surgiu porque houve interesse, até no sentido de apoio financeiro de empresários da Vila que gostaram, que queriam apoiar outros projetos. Eu e a Alethea Costa, produtora, começamos a conversar sobre figuras da Vila que a gente gostaria de retratar, e aí veio o nome do Tazinho. Havia uma demanda da galera de conhecer e de que houvesse esse registro sobre as figuras históricas.
Lupa do Bem: como a manutenção da identidade cultural pode ajudar a contar e explicar os diferentes Brasis para pessoas que não tem acesso a estes locais?
Fernanda Almeida: toda vez que a gente faz arte; quando a gente faz vídeo, quando a gente faz música, quando a gente escreve um texto, estamos criando narrativa e criando narrativa você cria identidade. Caraíva é um lugar hoje que está muito retratado de uma forma única e simplesmente pela vida do turismo.
Caraíva tem muita história, têm muitos personagens, e muita coisa para se fazer. É muito curioso que eu fui gerente de pousada e quando chegava turista para ficar assim dois dias três dias eu falava para ele é pouco em Caraíva é no mínimo uma semana para conhecer. E as pessoas se espantavam quando eu falava isso porque como uma vila tão pequena que hoje deve ter mil habitantes, que tem um km de uma ponta a outra no máximo.
Eu dizia: você vai ficar uma semana, tem muita coisa para fazer, muita coisa para conhecer, muita gente para conhecer e muita história. São vários brasis, são várias “Caraívas” e vários brasis dentro de Caraíva. Porque tem a Caraíva rica do turismo, a que não é tão rica assim, mas que também vive do turismo. Tem os Pataxós que moram nas aldeias, que circulam pela vila e também vivem do turismo. Os nativos que são os baianos, seja os que nasceram ali em Porto Seguro ou em outras regiões da Bahia. Como Caraíva é um dos lugares mais procurados para turismo no Brasil, eu acredito que a gente tem esse papel de criar e recriar identidade na Vila e até no Brasil, afinal, este é o vilarejo mais antigo do Brasil.
Lupa do Bem: qual a importância da preservação seja da memória ou da natureza, que em determinadas relações culturais se fundem, para que locais como Caraíva possam ser mantidos dentro de suas culturas?
Fernanda Almeida: sobre a questão da natureza, eu acho que talvez seja um ponto ainda não abordado nessas narrativas. O “Tazinho” vai abordar isso, mas com um olhar um pouco poético.
A gente quer falar da relação dele com o mar, mas não muito no sentido didático da preservação. Eu acho que o filme tende a gerar um certo desconforto em que for assistir, porque a gente vai contrapor bastante o ritmo da vila durante o verão. [O filme] foi filmado em janeiro, que é o período de maior movimento e o ritmo do mar. Mas a questão ambiental já é um debate entre os moradores como é a questão da preservação do Rio, a questão das construções irregulares que em Caraíva estão crescendo muito, eu espero que a gente possa contribuir com isso também.