Projeto é símbolo de resistência na Bahia

Fundado em novembro de 2020, o Mappo, Museu Afro-Brasileiro Pai Procópio de Ogunjá, possibilitou que os fiéis da Casa do Mensageiro, na Bahia, se conectem ainda mais ao território e também entre si

08.12.21

Crédito: Arthur Seabra

Por: Eduarda Nunes – Lupa do Bem / Favela em Pauta

Personagem importantíssimo da história do candomblé da Bahia – que iniciou a tradição de oferecer feijoada a Ogum e é símbolo da resistência às violências praticadas contra os terreiros baianos nos anos 20 –, Pai Procópio de Ogum recebeu seu espaço de memória em Camaçari, na região metropolitana de Salvador (BA).

O babalorixá Rychelmy de Esútob, do Ilê Asè Ojisè Olodumare, também conhecido como Casa do Mensageiro, através de sua pesquisa sobre a vida de seu Procópio conseguiu reunir um acervo nunca antes buscado na história do estado.

Inspirado por estar na linhagem direta da Casa de Axé de Pai Procópio (Ilê Ogunjá), Pai Rychelmy conseguiu chegar até Mãe Edna, zeladora do Santo dele, ao decorrer de sua pesquisa. Continuou esses cuidados com ela e teve acesso a mais partes da vida do babalorixá. 

MAPPO

Rychelmy foi iniciado no Candomblé por Pai Gilson, que foi iniciado por Mãe Roxinha, iniciada por Pai Procópio. Boa parte das informações iniciais da pesquisa chegaram de forma oral. 

Hoje, o Museu Afro-Brasileiro Pai Procópio de Ogunjá (Mappo) se localiza às margens do Rio Pojuca e faz parte do território da casa de axé do babalorixá que procurou saber a fundo a sua história. 

“A gente brinca que lá é o menor museu do mundo, porque o espaço físico da exposição é bem pequeno, mas hoje a gente entende aquele espaço como um museu de território, porque quando o estudante vai lá, ele não visita só o espaço do museu. Ele visita a parte externa, e algumas internas, da Casa de Santo também”, contou ao Lupa do Bem, a Yakekerê Daisy Santos, iniciada na casa desde 2013.

MAPPO

Esse projeto uniu todos os filhos da casa e suas habilidades. Por conta disso, além de um museu de território, os fiéis também entendem como um museu afetivo, pois tudo foi feito a partir de recursos humanos e materiais deles, sem nenhum incentivo financeiro externo. 

Daisy, inclusive, é museóloga e conta como foi importante a decisão de não criar um espaço de memória somente: “um memorial traz uma narrativa que se encerra e, com um museu afrobrasileiro, estamos falando de um universo de possibilidades que podem ser abordadas. Não só o universo do candomblé”, destaca.

Mappo – Na contramão das narrativas tradicionais

Outro fator decisivo na construção do Museu foram as carências que os filhos da casa sentiam sobre esse espaço em relação à população negra. A abordagem museológica sobre a história da população negra gera muito descontentamento aos filhos da casa – muitos são das áreas das Ciências Sociais e Humanas. Esse sentimento foi de suma importância para que o Museu Afro-Brasileiro Pai Procópio fosse à contramão dessas narrativas.

Todo esse processo possibilitou não só que a Casa se fortalecesse internamente, mas também aproximou os membros e destacando as habilidades de cada um, como também com o entorno do terreiro. 

Atualmente, a Casa do Mensageiro se articula com outras instituições religiosas e culturais da Barra de Pojuca para criação de roteiros turísticos étnicos que valorizem ainda mais o local, suas tradições e a preservação ambiental. 

Para marcar o primeiro ano em atividade, o Mappo realizou o Dia Cultural no dia 20 de novembro, que conta com apresentações culturais, lançamento do livro “Caos, Elos e Recomeços: O amor ao Orixá” escrito pelos fiéis da casa, oficinas e uma trilha ecológica.

“Eu trabalhei em vários museus e é outra perspectiva de tudo o que eu, enquanto museóloga e profissional de museu, já trabalhei. E, para mim, é a mais revolucionária de todas porque você está envolvendo pessoas que não têm costume de visitar museus. Tem crianças que vão crescer com outra ideia do que é um museu”, conta Daisy, com bastante entusiasmo.

    Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu
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Autor: Redação - Lupa do Bem
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