Centro Cultural UNICA: fé, cultura e arte se encontram no Rio de Janeiro

O Centro Cultural UNICA (União Umbandista Luz Caridade e Amor) oferece assistência espiritual e social, além de cultura, e outros projetos.

15.02.22

O Centro Cultural UNICA (União Umbandista Luz Caridade e Amor) oferece assistência espiritual e social, além de cultura, arte e outros projetos. Localizada no Rio de Janeiro, na Rua Sacadura Cabral, 109 – Saúde, a sede é um espaço enorme e acolhedor, onde todos convivem em harmonia. 

A carioca Sara, 60 anos, dirigente do Centro, conta que morou durante 14 anos na Bahia, época em que surgiram eventos que a obrigaram a procurar ajuda médica. Segundo o diagnóstico, ela estava tendo um surto psicótico. No mesmo período, uma amiga fez o convite para uma sessão no terreiro de Umbanda. Só que, até então, Sara era participante da Seicho–No–Ie e não conhecia religiões de matriz africana. Portanto, estava apreensiva, com certo receio, quase recusando a oferta. Mas, por fim, decidiu ir, pensando que “mesmo que não fizesse bem, mal também não faria”. 

Sara, dirigente do Centro Cultural Unica, une fé, cultura e arte em um único lugar no Rio de JaneiroLogo após a ida ao terreiro, Sara percebeu que sua cabeça tinha parado de rodar, ela estava mais centrada e sentindo-se melhor. Descobriu, então, que não se tratava de um surto psicótico. Os sintomas eram, na verdade, sua mediunidade aflorando, algo que ainda precisava ser trabalhado. E, apesar das dificuldades e do medo da exposição, com o tempo, ela passou a entender aqueles eventos de maneira espiritual. 

Mesmo assim, Sara ainda tinha receios relacionados à permanência no terreiro. Então, com a intenção de sair, começou a estudar Física Quântica e Metafísica. Porém, mesmo após o início dos estudos, resolveu que iria ficar.

Na entrevista abaixo, Sara detalha os motivos que a fizeram seguir este caminho, chegando a ocupar, atualmente, o cargo de dirigente nessa instituição que prega Luz, Caridade e Amor.

Sara, dirigente do Centro Cultural Unica, une fé cultura e arte em um único lugar no Rio de Janeiro
Sara, dirigente do Centro Cultural Unica, une fé cultura e arte em um único lugar no Rio de Janeiro

Neuza Nascimento: Baseado em seu relato, quando você decidiu estudar Física Quântica e Metafísica, a sua intenção era se afastar da Umbanda. O que a fez mudar de ideia?

Sara: Durante os estudos, tive uma surpresa. Porque, na verdade, eles fundamentaram tudo o que acontecia no terreiro. Adquiri conhecimentos que me fizeram mudar de ideia. Então,  permaneci e  me apaixonei pela Umbanda. 

Neuza Nascimento: Como foi seu início na Umbanda?

Sara: Comecei por necessidade, e após um tempo, comecei a me sentir bem, até que me apaixonei. Minha cabeça melhorava quando ia nas sessões. Então, eu pensava “o que é isso? como pode?”. Após inalar uma pequena quantidade de fumaça do charuto, do cachimbo, eu me sentia melhor e continuava sem entender. Como um banho de ervas me faz sentir bem? Ao iniciar os estudos na ciência, compreendi que realmente havia fundamento. Aquilo era muito especial. São 20 anos de história, eu me dedico por mim e por outras pessoas que buscam ajuda e sentem a mesma angústia que um dia eu senti. Todos nós viemos para o mundo com um propósito, e vejo que o meu é a caridade, seja social ou espiritual. Seguindo este rumo, as coisas começaram a acontecer.

Neuza Nascimento: Quando surgiu a ideia de fundar e dirigir um terreiro de Umbanda? 

Sara: O Terreiro foi um presente de Nanã (Orixá).  Em 2016, as pessoas insistiam para que eu abrisse um terreiro, mas eu respondia que não tinha condições financeiras. No entanto, o plano espiritual ficou encarregado e eu aceitei. Em dois meses, o terreiro estava montado! 

O endereço era outro, na época. E eu continuei, mesmo com dúvidas sobre a gestão, porque apesar de frequentar, nunca havia realizado tal atividade. 

Neuza Nascimento: Qual a solução encontrada para a gestão do terreiro?

Sara:  Meu Caboclo e meu Preto Velho me tranquilizaram e comprometeram-se com a realização da gestão. Confiei neles, as coisas foram acontecendo e, atualmente, a casa soma 5 anos. Sigo as orientações deles, desde então. Sigo tudo à risca, pois sozinha e sem a ajuda do plano espiritual, acredito que não teria dado certo.

Neuza Nascimento: O centro possui algum apoio financeiro fixo?

Sara: Não possui. Tudo é realizado com a força de vontade das pessoas, a união dos médiuns da casa e o amor ao próximo. 

Neuza Nascimento: Como o centro se mantém financeiramente?

Sara: Conseguimos nos manter através de doações, os médiuns da casa contribuem com uma mensalidade e os alunos dos projetos sociais que possuem condições financeiras também realizam contribuições. Além disso, temos uma cantina e uma loja de artesanatos em que alguns membros da casa expõem suas peças para venda, sendo que uma porcentagem delas são destinadas ao terreiro. Realizamos rifas de itens doados para obter receitas e temos o Optchá! Bazar, com roupas e acessórios que chegam através de doações também. Temos, ainda, um espaço de Coworking. Desta forma, custeamos as despesas fixas da casa, como por exemplo: aluguel, luz, gás e IPTU. E, para amenizar as despesas, solicitamos a isenção do IPTU, já que temos esse direito. 

Neuza Nascimento: Você tem uma equipe?

Sara: A casa totaliza hoje 101 médiuns. Todos sabem que possuem deveres e responsabilidades a serem cumpridos, e as atividades são distribuídas conforme a facilidade de realização. Acredito que, desta forma, funcionamos muito bem. 

Neuza Nascimento: Alguém é remunerado? 

Sara: Sim, precisamos que alguém fique no centro durante o dia. Normalmente, essa pessoa é um dos nossos médiuns. No entanto, quando existe a possibilidade, remuneramos os mesmos, pois o centro está aqui para ajudar seus membros. O Brasil é o único lugar em que o trabalho voluntário não é remunerado. 

Neuza Nascimento: Por favor, cite todas as atividades e projetos sociais do Centro Cultural UNICA. 

Sara: As ações do centro são essas:

  • Trabalho Espiritual;
  • Atendimento Espiritual;
  • Terapia Holística;
  • Reiki;
  • Barra de Access;
  • Terapia Xamânica;
  • Massoterapia;
  • Roda de Conversa “Sagrado Feminino”;
  • Terapia.

Neuza Nascimento: Quais são os projetos sociais?

Sara: Os projetos sociais estavam nos planos da casa desde o início, foi uma orientação espiritual. Na época, foi pedido, espiritualmente, para que eu cuidasse de crianças. Então, foi assim que atividades foram surgindo. Esses são nossos projetos:

  • Jiu-Jitsu;
  • Aulas de bateria e atabaque;
  • Aulas de inglês;
  • Festa anual de São Cosme e São Damião;
  • Kit Enxoval distribuído anualmente para 25 mulheres grávidas em situação de vulnerabilidade;
  • Assistência jurídica;
  • Cestas básicas;
  • Resgate de dependentes químicos.

Lembrando que os projetos abrangem todas as idades. 

Neuza Nascimento: Os moradores da região têm envolvimento com o centro cultural?

Sara: Sim, muitos buscam consultas espirituais. E ajudam com doações financeiras e de roupas, além da compra de rifas. As roupas doadas são vendidas no Optchá! Brechó.

Neuza Nascimento: Quais são os seus maiores desafios? 

Sara: Realizar todas as ações sem um apoio financeiro fixo, a imprevisibilidade é difícil. As pessoas que não estão envolvidas com nossas operações pensam que somos ricos, pois estamos bem localizados e com um espaço ótimo. Mas temos muita luta, campanha, rifas, força de vontade, amorosidade, muita fé e confiança. É acreditar no invisível. 

Neuza Nascimento: Quais foram as suas maiores vitórias?

Sara: A vitória teve início em 2016, ao montar um terreiro em dois meses, apenas com a força de vontade, colaboração e o amor de cada um envolvido. A vitória é estarmos aqui apesar da pandemia, que ainda não acabou. É realmente um milagre. A vitória é continuar tendo fé, acreditar que podemos cocriar com a força, cooperação do grupo. Não faço as coisas sozinha, o centro não é meu, eu apenas dirijo-o e repasso as informações que recebo do plano espiritual. A maior vitória é o ensinamento.

Neuza Nascimento: Como foi 2020 e o início de 2021 para o terreiro?

Sara: Durante o auge da pandemia, não houve atendimento espiritual. Recebemos o aviso de que algo aconteceria no dia 20 de março de 2020, porém não sabíamos qual a natureza do evento. Atualmente, já retomamos os atendimentos, mas com restrições, como a redução do número de pessoas atendidas.

Neuza Nascimento: Atualmente visam algum projeto futuro?

Sara: Sim, pretendemos dar suporte às mulheres em estado de privação de liberdade, através de visitas em presídios femininos. Estamos tentando conseguir credenciamento para isso. Também está sendo montado um consultório dentário, para atender o público em geral de forma paga, com uma porcentagem direcionada para ajudar nas despesas do Centro. E um dia da semana será reservado para o atendimento gratuito de crianças carentes. Além disso, estamos montando uma barbearia em parceria com o Centro de Acolhimento Provisório, um projeto da prefeitura que abriga moradores de rua à noite, localizado na Praça Mauá. Nesse Centro, são ensinados cortes de cabelo e viabilizados espaços para trabalho. Na parceria, um salão será montado aqui e o aluguel do espaço servirá como mais uma forma de sustentabilidade para o terreiro. É uma troca. Por fim, estamos realizando a montagem de uma oficina de corte e costura para as mães dos alunos de Jiu Jitsu, gerando uma alternativa de renda para elas. 

Neuza Nascimento: Os itens para composição das cestas básicas são fornecidos por alguma instituição?

Sara: Temos uma parceria com a Ação da Cidadania. Além disso, os médiuns e amigos da casa também colaboram. Realizamos as doações para as pessoas diretamente, para grupos, para os moradores da ocupação próxima daqui e para outras instituições, como igrejas evangélicas, por exemplo. Recebemos as doações de alimentos, montamos e entregamos. Durante a Pandemia, essa prática foi acentuada, mas nós sempre fizemos isso.

Neuza Nascimento: Gostaria de acrescentar alguma coisa?

Sara: Sim, gostaria de dizer que um dos meus motivos para abrir o terreiro foi a reflexão sobre o que vim fazer nessa vida. Descobri que não podemos passar por ela sem um propósito. Esse espaço é para falar de cultura afro e das religiões de matrizes africanas, para tirar um pouco do preconceito das pessoas, fazer com que entendam que as coisas ruins que ouvimos sobre elas não são verdade. Temos que fazer com que as pessoas entendam que Exu não é diabo, temos que mostrar como é o trabalho, o que é Umbanda, o que são essas religiões e o que elas praticam de verdade. Nossas portas estão abertas para todos que queiram nos visitar, conhecer a Umbanda e ver que a prática dessa religião é só amor.

Estão convidados também para visitar nossa cantina, apreciar as obras de artes à venda, prestigiar nosso Optchá! Brechó e, se tiver vontade, participar de nossos eventos espirituais.

Caso tenha interesse em ajudar de alguma forma, por favor, entre em contato conosco através dos links abaixo.

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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