Projeto ressocializa mães através da conexão com a natureza

A Coluna da Neuza vai publicar uma série de atividades inusitadas, que você pode fazer sem gastar muito ou gastando nada

19.05.22

A partir de hoje, periodicamente a Coluna da Neuza vai publicar uma série de atividades inusitadas, que você pode fazer sem gastar muito ou gastando nada.

O primeiro projeto da série é o “Mulheres na Trilha.”

E não se preocupe, no decorrer deste ano também serão publicadas atividades para todos os gêneros, gostos e idades. Aguarde e fique de olho em nosso instagram nos posts sinalizados como “Atividade com valor acessível” e “Atividade gratuita”.

Atividade com valor acessível

O Mulheres na Trilha foi criado pela guia turística Elisabete Coelho da Silva, ela tem 29 anos, é mãe e reside em Austin, Nova Iguaçu – RJ, sendo apaixonada por trilhas. 

Elisabete conta que o motivo pelo qual ela criou esse grupo, foi por um fato que aconteceu em sua vida, e que ela considerava que fosse algo isolado. Mas, conversando com outras mulheres, ela percebeu que o que aconteceu com ela, acontece na vida de muitas mulheres. Ela diz, que após a maternidade, a mulher tende a ficar muito sozinha, e pensando nisso ela criou o grupo no intuito de ressocializar mulheres nessa condição. 

“Depois que as mulheres se casam, elas esquecem quem são de fato e acabam se dedicando exclusivamente aos filhos, ao parceiro(a), a casa, aos afazeres e a vida delas fica em segundo plano, mesmo sem elas perceberem. Muitas mulheres se expõem a relacionamentos abusivos sem se dar conta, e foi o que aconteceu comigo. A trilha me ajudou a superar essa fase, me reconectar com meu eu e com a natureza. Depois percebi que, criando um grupo as atividades seriam mais divertidas e poderiam ajudar outras mulheres e, porque não, realizar também ações de cunho social. Assim, o projeto acabou virando uma rede do bem”, explica Elisabete.

O início foi em 2018, quando aconteceram as primeiras trilhas, mas as atividades se intensificaram mesmo foi em 2020. Durante as trilhas você se diverte, faz amizades, conhece lugares novos e ainda colabora com ações sociais do grupo. As trilhas não têm um cronograma e a comunicação é feita através de um grupo de WhatsApp, que conta hoje com 204 membros ativos. 

O valor simbólico cobrado por cada atividade ou trilha, é convertido em brinquedos, almoços beneficentes para mães que não tem condições de fazer almoço para os filhos no Dia das Mães, distribuição de quentinhas, fraldas, lenços umedecidos, leite, absorventes, produtos de higiene pessoal e outros. Os beneficiários são pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica em vários bairros do Rio de Janeiro e orfanatos.

Além das trilhas são realizados outros eventos como yoga, caminhadas, rapel, palestras e luaus, que duram a noite toda e quando amanhece todas tomam juntas o café da manhã.

Bate-papo com Elisabete:

Neuza Nascimento: Qual trilha você considera ser a melhor de todas? 

Elisabete Coelho: Impossível mensurar, todas as nossas trilhas têm uma conotação especial. Todas se sentem bem, porque elas são aceitas no grupo do jeito que elas são. É de conhecimento geral, que quem não está nos padrões de beleza ditados pela sociedade, acabam ficando esquecidos ou excluídos mesmo, e não tem a oportunidade de fazer diversas atividades. Temos meninas acima do peso, que não conseguem acompanhar um grupo comum por não estarem nos padrões de “trilheiras”, temos mulheres idosas e até mulheres que levam os filhos porque não tem com quem deixar, e todas ajudam a cuidar.

As trilhas acabam funcionando como válvula de escape para as participantes, inclusive para mim, que trilho com meu filho.

“É um grupo lindo e acolhedor, nós trilhamos para fazer o bem”

“Todas as nossas trilhas são muito especiais, mais de 1000 mulheres já participaram, a maioria, mães ou mulheres que estavam saindo de um relacionamento abusivo e não tinham apoio emocional no círculo familiar. Muitas delas, com a presença constante nas trilhas, conseguiram se reerguer e seguir um caminho bem legal”, diz Elisabete.

Abaixo os depoimentos de algumas participantes:

“Sou obesa, diabética e estava muito sedentária, meus filhos cresceram e talvez eu tenha entrado em depressão, pois estava acordando tarde e sem ter o que fazer. Um dia, eu vi um anúncio sobre trilhas só para mulheres, e me interessei muito. Porém, senti medo de não aguentar, de não conseguir. Minha primeira trilha foi a do Pão de Açúcar, fiquei muito preocupada por conta das minhas limitações, meu peso e idade, mas consegui! Daí pra frente minha vida se abriu e eu saí da mesmice. Só tenho a agradecer a esse grupo maravilhoso, a Liz, e por tudo que aconteceu na minha vida depois das trilhas. Fiz amizades que vou levá-las para vida.”

Katya Galdeano, viúva, 53 anos

“Durante a pandemia, andei ficando muito triste e deprimida, foi então que descobri o Mulheres na Trilha. Na primeira vez que participei, tivemos um dia muito agradável, conversamos umas com as outras, subimos e descemos em pedras e fizemos caminhada em meio a mata. Está sendo ótimo para minha saúde mental, a descoberta das trilhas foi a minha salvação.”

Edna Goulart, 64 anos, moradora de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, proprietária da marca Nega Atrevida, Moda Afro e Étnica.

Conheça alguns dos lugares já visitados pelo Mulheres na Trilha:

Forte do Leme, Mirante Caeté, Praia do Secreto, Pedra do Gavião, Morro da Urca, Serra do Vulcão, Parque Penhasco Dois Irmãos, Parque Municipal de Nova Iguaçu, Gruta da Sacristia, Gruta do Acaiá… entre outros.

Se divirta!

Pegue seu tênis, separe uma roupa bem confortável, uma garrafa d’água, frutas, jogue a mochila nas costas e se prepare para a próxima trilha.

Você pode sugerir lugares e outras atividades e se o grupo aceitar, bora!

Para mais informações no Instagram do Mulheres na Trilha ou chame no WhatsApp (21) 96547-0787.

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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