Resistência e insubordinação: conheça a história de Sabrina Nascimento, “Autista Diferentona”

Celebrando o Dia do Orgulho Autista (18 de Junho), esta matéria é uma homenagem a todos os autistas brasileiros

16.06.22

Você sabe o que é Autismo?

Sabrina Nascimento, é autista e nessa entrevista ela fala um pouco sobre essa deficiência, um assunto desconhecido por muitos.

Baiana de Salvador, ela é formada em Letras com espanhol e mestranda em Educação pela UFBA – Universidade Federal da Bahia. Tem 40 anos, é casada e mãe de duas lindas filhas gêmeas, Valentina e Maria Flor, hoje com cinco anos. 

“Símbolo do Autismo - quando estiver presente, o lugar é preferencial para autistas."
“Símbolo do Autismo – quando estiver presente, o lugar é preferencial para autistas.”

O que é o Transtorno do Espectro Autismo?

Sabrina Nascimento diz que a SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria, descreve o autismo como “um transtorno do desenvolvimento neurológico, caracterizado por dificuldades de comunicação e interação social e pela presença de comportamentos ou interesses repetitivos e restritos”. Tais sintomas configuram o núcleo do transtorno, mas a gravidade de sua apresentação é variável. 

Perguntada sobre como podemos perceber se uma criança é autista, ela responde que, em geral, o importante é se atentar aos marcos de desenvolvimento infantil, que estão presentes na carteira de vacinação da criança. Ela diz também que descobriu seu próprio autismo já adulta, após o diagnóstico das suas filhas. Ela diz que foi uma redescoberta de si e, no início foi difícil, mas depois foi tentado e procurando aceitar.

Sobre a relação com familiares, ela diz que as pessoas continuam tratando ela como uma pessoa neuro típica, ou seja, não autista.

Sabrina fala sobre socialização e superação

“Embora eu me comunique bem e pareça muito extrovertida, a falta de filtro social me colocava em situações bastante delicadas. Tenho dificuldade em manter amizades, quem segue comigo, é porque gosta verdadeiramente de mim. Namorei tarde (para a média), meu primeiro namorado foi por volta dos 18 anos. Acredito que os prejuízos na interação social contribuíram para eu me relacionar afetivamente tão tarde.” 

Sobre superação, ela continua: “eu não gosto muito desse termo. Ele coloca as pessoas com deficiência em situação de desvantagem, soa como se fosse legítima a falta de adaptação, acessibilidade e inclusão, já que somos capazes de nos superar. Obviamente que todos podemos dar o nosso melhor, porém associar a superação à pessoa com deficiência reforça alguns estereótipos. Nos anos 80/90 não se falava em autismo como agora, então minha família nem fazia ideia de que eu pudesse ser autista, mas, com certeza, minha família teve um papel fundamental em relação à mulher que sou hoje,” diz. 

O que te deu força para chegar onde chegou?

“Acredito que trabalho e educação são possibilidades de transformação social”.

“Não sou herdeira, sou oriunda da classe trabalhadora, sendo assim, só me restava o caminho do estudo e do trabalho”, afirma.

Sobre preconceito social

Sabrina é de opinião que, assim como toda pessoa fora do padrão ou da norma ditada, as pessoas autistas sofrem bastante preconceito, principalmente as que demandam maior apoio nas suas atividades diárias ou que trazem consigo outros marcadores sociais, como os autistas negros.

Sabrina Nascimento fala sobre Políticas públicas

“Primeiramente é preciso que as leis já existentes, sejam respeitadas na prática, como, por exemplo, a Lei Berenice Piana da Lei Brasileira de Inclusão. Em segundo lugar, é necessário cruzar dados de gênero, raça, classe e deficiência para podermos alcançar a diversidade na diversidade. É preciso que os censos demográficos se convertam em políticas públicas e garantam acesso e permanência das pessoas com deficiência nas universidades, por exemplo. A PNS – Pesquisa Nacional de Saúde, 2019, nos revela que apenas 5% das pessoas com deficiência concluíram o ensino superior,” diz ela. 

Sabrina Nascimento deixa aqui um recado para pais, parentes, cuidadores, professores e outros, que convivem com pessoas portadoras de Espectro Autistas:

“Acolhimento, paciência e respeito à dignidade da pessoa autista é o principal para ser realizada uma sociedade verdadeiramente inclusiva” 

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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