Projeto oferece psicoterapia em grupo para mulheres fragilizadas emocionalmente

Com a intenção de ser testemunha de transformações, Neila Andrade criou o projeto Acorrentadas Jamais que, há cinco anos, começou dando suporte emocional a quatro mulheres e hoje apoia 100 atendidas

30.04.24

A criadora do projeto Acorrentadas Jamais, Neila Andrade, é escritora, doutoranda em psicanálise, especialista em saúde emocional da mulher e terapeuta emocional. Através de uma entrevista à Coluna da Neuza, ela conta como iniciou e quais os objetivos do projeto. 

“Tudo começou com a Dona Lu, minha mãe. Ela era uma mulher que tinha um coração coletivo. Mesmo sem saber o que estava fazendo, ela já acolhia e cuidava de mulheres; de maneira prática, já fazia isso. Lembro quando eu era criança e chegava alguma mulher lá em casa chorando, pedindo ajuda, minha mãe gritava: ‘apaga o fogo das panelas!'”.

“Naquele momento, a gente já ficava sabendo que a barriga iria roncar, íamos demorar para almoçar, porque Dona Lu só deixaria aquela mulher ir embora quando ela estivesse com um sorriso no rosto, recuperada emocionalmente”.

“Um dia, minha mãe foi diagnosticada com câncer. E, naquele momento, ela quis lutar pela vida, mas já era tarde. Eu tive uma mãe que amava muito cuidar do outro e se cuidar, mas chegou um momento, devido a diversas situações sofridas, que ela se abandonou, saindo do autocuidado, passando para o autoabandono, desistindo dela mesma”, explica Neila.

Neila ainda conta que a ocasião em que a mãe faleceu ficou registrada em sua mente. Ela diz que sofreu muito. “Fui ao fundo do poço indo para o osso da dor”. 

Mas, sendo cristã, ela se apegou à sua fé e decidiu juntar a história da mãe com a dor que estava sentindo e fazer alguma coisa. Ela não queria que tudo acabasse ali.

E assim começou a agir, criando através do Instituto Neuropsi, no Rio de Janeiro, onde atende de forma remunerada, o projeto Acorrentadas Jamais. 

Bem-estar emocional

Neila diz que o grande objetivo do projeto é entregar para essas mulheres, que participam dos encontros, ajuda, qualidade de vida, apoio e bem-estar emocional através da psicoterapia em grupo. 

O projeto consiste em rodas de conversa durante as quais é construído um espaço seguro, onde todas se sentem à vontade e incentivadas a realizar trocas de ideias, dores e alegrias.

Ali, elas são livres para falar; não há espaço para críticas, julgamentos ou aconselhamentos. Estão juntas num único propósito: trazer para dentro do grupo o que as deixa doente emocionalmente.

O que leva essas mulheres até o projeto?

As mulheres buscam ajuda no Acorrentadas Jamais por estarem enfrentando algum problema emocional, que pode ser luto, depressão, separação, abuso ou violência doméstica, problemas com filhos ou nas relações. São dores e sofrimentos, cada uma com suas histórias. 

Há muitas donas de casa que dedicaram toda uma vida à família, mas hoje os filhos cresceram, casaram e foram levar suas vidas longe de casa; os maridos foram embora ou morreram, e algumas delas também já não trabalham. Por conta disso, se veem na solidão. São várias as histórias de vida. Resumindo, todas chegam dentro de um sofrimento emocional.

Metodologia

São 12 encontros mensais que acontecem onde houver disponibilidade de espaço.  No último encontro do ano é realizada uma confraternização. 

Nesse momento, ocorre uma avaliação, onde as participantes se colocam enquanto beneficiadas do projeto. Em geral, as transformações sempre acontecem, e elas, de livre e espontânea vontade, contam para as outras dentro do espaço como estão se sentindo.

Isso além de fazer bem a quem conta e a quem escuta, acaba provocando a vinda de outras no ano seguinte. É possível, diz Neila, perceber a evolução que se dá desde quando entram, no início do ano, até o momento da avaliação.

Isso faz com que a idealizadora da ação sinta-se orgulhosa de todas elas. Assim, se fecha um ciclo para iniciar outro no próximo ano.  

“As mulheres atendidas chegam até o projeto através do boca a boca e da página do Instagram, onde muitas enviam mensagens perguntando como funciona e eu dou direcionamento. Elas são divididas em três grupos”.

“Em geral, as mulheres não têm um espaço onde possam abrir o coração em segurança, onde sejam ouvidas e enxergadas. O projeto Acorrentadas Jamais traz isso”, finaliza Neila.

Necessidades do Acorrentadas Jamais

  • Você pode ceder ou emprestar um espaço periodicamente ou de forma permanente para as rodas de conversa do grupo.
  • Doações em espécie para custear transporte das mulheres para as reuniões e para as terapias ao ar livre, além de fornecer material para lanche, materiais descartáveis, de higiene e limpeza, cavalete, canetas piloto e material de escritório.

Siga o projeto no Instagram. Para informações de como apoiar, envie uma mensagem no direct.

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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