União para para reconstruir terreiro incendiado em Pernambuco

Adeptos de denominações de matriz africana são frequentemente alvos de violência e intolerância religiosa

24.02.22

Crédito: Divulgação

Por: Eduarda Nunes / Favela em Pauta – Lupa do Bem

Em Pernambuco, a casa de Axé de tradição Jeje-Nagô Ilê Axé Ayabá Omi, também conhecido como Terreiro das Salinas, começou o ano com seu espaço sagrado sendo incendiado. O projeto Oxé, que atua com assessoria jurídica e psicossocial para casos de racismo em Pernambuco, junto à Rede de Mulheres Negras, ao Fórum de Mulheres e à Articulação Negra criaram um grupo de trabalho para a construção de uma campanha de arrecadação de fundos para a reconstrução do Terreiro das Salinas, incendiado no primeiro dia do ano.

Em decorrência da urgência para reerguer a Casa de Axé e também pela criação de campanhas falsas de arrecadação de fundos para esse fim, o Terreiro das Salinas teve o apoio das organizações citadas para lançar a sua própria. Além da parte financeira, a campanha Reconstruindo Salinas tem o caráter educativo e comunicacional sobre intolerância religiosa.

Terreiro das Salinas

As religiões de matriz afro e indígena sempre enfrentaram dificuldades para se manter, resistindo ao longo de toda a história do país. Mesmo cultivando uma relação de troca, respeito e solidariedade com a comunidade ao redor, os centros de religiões de matriz africana e seus fiéis não deixam de ser alvo da violência, seja física, material ou moral.

O Terreiro das Salinas

Localizado no litoral sul de Pernambuco, no município de São José da Coroa Grande, o Terreiro das Salinas, zelado pelo Babalorixá Lívio Martins, se instalou em agosto de 2018, e desde então nutria uma relação de respeito e cuidado com a população do entorno. Alguns dos trabalhos que eram realizados com regularidade pelo sacerdote e filhos da casa eram o reforço escolar e distribuição de cestas básicas, que eram recebidas através da campanha Tem Gente Com Fome.

terreiro das Salinas

Ao longo desses três anos em funcionamento, a Casa de Axé teve suas atividades interrompidas pela polícia três vezes. Em todas elas, as autoridades alegavam que o terreiro havia sido denunciado pela Lei do Silêncio – que estabelece limites e horários para eventos com som alto. Nas três ocasiões, os fiéis criaram e encontraram meios de se adaptar para seguir com as atividades religiosas, nos limites da lei e da boa convivência. Além disso, membros da casa também eram alvos de ofensas e de provocações de alguns vizinhos.

No entanto, na virada do ano de 2021 e 2022, o espaço foi incendiado e 90% do local foi destruído pelas chamas.

Terreiro das Salinas

Intolerância ou racismo religioso?

O Brasil é composto por pouco mais de 214 milhões de pessoas. Delas, 50% professam sua fé através do catolicismo, 31% através do protestantismo e apenas 2% através de religiões de matriz africana ou indígena. Segundo o Disque 100, Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos que acolhe denúncias de intolerância religiosa, em 2020 houve um aumento de 42% de casos de violação do direito à fé dos adeptos das religiões de matriz africana e indígena em relação a 2019. Em comparação a 2018, o dado fica ainda mais preocupante: constatou-se um aumento de 132% do número de casos de intolerância religiosa.

Em 2022, completa-se 15 anos desde a instituição do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. O dia 21 de janeiro foi escolhido por marcar também o dia do falecimento de Mãe Gilda, babalorixá baiana atacada inúmeras vezes – verbal e fisicamente-, por fundamentalistas da Igreja Universal do Reino de Deus. Sua morte se deu por um ataque cardíaco fulminante após ver sua imagem vinculada a informações falsas sobre sua religião no jornal dessa mesma instituição.

A intolerância religiosa destinada às religiões de matriz africana e indígena mascara o preconceito estendido às manifestações religiosas que essas populações negras e indígenas desenvolveram. Cada vez mais, adeptos, sacerdotes e admiradores dessas religiões chamam atenção para que o termo intolerância religiosa não seja o mais correto para essas situações e, sim, racismo religioso.

Como acompanhar e apoiar

Todos os conteúdos relacionados à reconstrução do Terreiro das Salinas são publicados no Instagram. É possível apoiar a iniciativa por meio da vaquinha online e também por pagamento via Pix. 

 

    Instituto da Mulher Negra Mãe Hilda Jitolu
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Autor: Redação - Lupa do Bem
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