Descubra como foi a criação da Associação Agentes da Cidadania Coletivo Mulheres Luz

A mineira de Juiz de Fora, Cleone Santos, 64 anos, trabalhou por 18 anos como prostituta no Parque Jardim da Luz, na Cidade de São Paulo.  Quando deixou esse trabalho, resolveu que iria continuar lá, mas agora dando apoio e visibilidade aos problemas das mulheres. Foi assim que criou o Coletivo de Mulheres da Luz.

10.11.22

Criado em 2013, o coletivo tem o objetivo de promover a cidadania e a garantia de direitos para mulheres que vivem em situação de prostituição na região central de São Paulo. A faixa etária das mulheres atendidas é acima de 40 anos, muitas são idosas e, na sua grande maioria são negras, moradoras de periferias e com baixa escolaridade.

O que inspirou Cleone a criar o Coletivo Mulheres da Luz foi ter percebido que um grande número de mulheres não tinham conhecimento dos seus direitos. As atividades oferecidas pelo Coletivo são reforço escolar, alfabetização, atendimento psicológico, encaminhamento jurídico, encaminhamento para formação profissional e ainda oficinas de formação. Durante a pandemia, foram captadas e entregues cestas básicas para todas as mulheres participantes do Mulheres da Luz. 

Uma das ações mais importantes realizada pelo Coletivo é levar a pauta da prostituição para o público em geral. São realizadas palestras, rodas de conversas, encontros, lançamentos de livros, entre outras atividades de integração e socialização. Além de dar visibilidade à causa, estes eventos são também um espaço para discutir o acesso de direitos como aposentadoria, moradia e saúde pública.

Cleone diz que a ideia é levantar uma bandeira e colocar o tema na agenda da cidade e inclusive das formadoras de opinião. Outro objetivo é quebrar o estigma e o estereótipo associado às mulheres em situação de prostituição, diminuindo preconceitos e reforçando questões específicas dessas mulheres. 

Outra ação realizada em benefícios das participantes é a promoção do acesso delas às Políticas Públicas. Já foram firmadas parcerias com a Rede de Saúde Pública, sendo feitos encaminhamentos para a Previdência social, em especial o BPC – Benefício de Prestação Continuada, e para LOAS – Lei Orgânica de Assistência Social, que garante um salário mínimo para idosas. 

Cleone Santos fala sobre outros objetivos do coletivo:

“O nosso objetivo é escutar os desafios enfrentados pelas mulheres em situação de prostituição na região central de São Paulo e, junto a elas, propor e trabalhar em ações de melhoria destas realidades, dar visibilidade, promover saúde, educação, saúde integral e lazer para o público atendido”, diz ela.

Cleone dos Santos diz que a maior vitória do coletivo é já ter algumas mulheres com formação universitária, sendo outras capacitadas como cuidadoras e conta hoje com nove Agentes de Prevenção em ação, e também comemora a promoção de maior convivência entre todas as mulheres da associação.

Mas o que levou Cleone a se prostituir?

Cleone era militante sindicalista, mas ficou sozinha, com três filhos para criar. Na época, trabalhava no bairro Bom Retiro, SP, na limpeza de duas lojas. Gostava muito de ler jornal e, uma vez, lendo sentada no Parque da Luz, veio um homem e perguntou se fazia programa. Todas às vezes que o homem a via no local ficava insistindo e um dia ela aceitou. Fez uma, duas, cinco vezes e se viu conseguir ganhar cinco vezes mais do que no seu trabalho. Foi quando aconteceu a transição de militante sindical para uma mulher em situação de prostituição. Ela diz ainda, que seus filhos só souberam dessa parte de sua vida secreta depois que ela saiu dela.

Hoje, Cleone dos Santos é presidenta da Associação Agentes da Cidadania, coordena o Coletivo Mulheres da Luz e está à frente da Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres no Município de Diadema.

Para apoiar a causa, clique aqui.

Ou ligue para 

(11) 96472 8631.

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A sede do Coletivo está localizada a Rua Carmine Forte, Bom Retiro, São Paulo, Capital.

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Neuza Nascimento
Após ser empregada doméstica por mais de 40 anos, Neuza fundou e dirigiu a ONG CIACAC durante 15 anos. Hoje é estudante de Jornalismo e trabalha com escrita criativa, pesquisa de campo e transcrições. No Lupa do Bem, é responsável por trazer reflexões e histórias de organizações de diferentes partes do Brasil para a "Coluna da Neuza".
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