Em Sergipe, organização das marisqueiras exige cuidado e valoriza a categoria

A organização do grupo veio para positivar e regular o trabalho das marisqueiras. Padronizar valores de venda, organizar relações de trabalho com pessoas de outros grupos e exigir avanços institucionais

05.10.21

Crédito: Acervo Pessoal

Por: Eduarda Nunes / Lupa do Bem – Favela em Pauta

Fruto do mar é comida de quem gosta de praia. Camarão, ostra e caranguejo são alguns dos crustáceos que acompanham os peixes na preferência da freguesia. O que nem todo mundo sabe é que catar cada um deles é um trabalho feito substancialmente por mulheres, muitas vezes desvalorizadas e negligenciadas. 

Em Sergipe, as chamadas marisqueiras se organizam há 6 anos para mudar esse quadro. “Nosso trabalho não tem reconhecimento, mesmo nós sendo apoio de base da pesca no estado”, comenta Arlene Costa, marisqueira de 39 anos e integrante do Movimento das Marisqueiras de Sergipe (MMS). 

Segundo ela, o trabalho feito por essas mulheres se torna maior do que os dos pescadores tanto pela forma como cada marisco demanda que seja a catação como também pelo acúmulo desse trabalho com os domésticos.

“A gente cuida da casa, de filho, leva para escola, vai para maré, desfila, embala e os homens não. Eles vão para maré, pescam, voltam”.

A organização do grupo veio para positivar e regular o trabalho das marisqueiras. Padronizar valores de venda, organizar relações de trabalho com pessoas de outros grupos e exigir avanços institucionais para toda a categoria. 

Marisqueiras

“Os cambistas chegavam, compravam mercadoria a R$3, R$5, do jeito que queriam. A gente chamou elas para conversar, aprender a valorizar o próprio trabalho, vender o pescado a um preço justo para elas também”, comenta Arlene.

A reivindicação mais recente é a da elaboração de protocolos de assistência de saúde específicos para as pescadoras e pescadores em todo o estado de Sergipe. A insalubridade do trabalho que executam e a pouca disponibilidade de tempo para realizar as consultas e exames são algumas justificativas utilizadas. Arlene está confiante que essa será mais uma conquista para a categoria.

As marisqueiras e outros trabalhadores das águas têm orientação e apoio do Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP) para suas ações. É nessa articulação que conquistas como o reconhecimento das marisqueiras como categoria. 

A partir disso foi possível, por exemplo, ter acesso ao seguro-defeso, auxílio oferecido durante o período de reprodução nos mangues e rios, com o protocolo de solicitação do cadastro do Registro Geral da Pesca (RGP).

Os resquícios do óleo no nordeste e como isso afeta o trabalho das marisqueiras

Quando o petróleo, de origem até hoje desconhecida, tomou conta do litoral do nordeste, há pouco mais de 2 anos, todas as praias de Sergipe foram atingidas. Os pescadores do menor estado da região tiveram seus trabalhos e suas vidas completamente atravessadas pelas manchas que afetaram os seus pescados.  À época, escreveram e publicaram uma carta exigindo providências dos governos municipais, estadual e federal. 

Os dias não têm sido melhores: quando estavam remediando o óleo, veio a pandemia. O petróleo contaminou os pescados, provocou a diminuição do consumo do pescado e deixou a população que consome e pesca vulnerável em alerta sobre doenças em decorrência do derramamento nos mares, mangues e rios. Com a pandemia, houve o fechamento de feiras livres e regulação das idas às marés.

Marisqueiras

Recentemente, os grupos escreveram outra carta conjunta para expor a situação de vulnerabilidade das comunidades tradicionais da região. 

Os pescadores e marisqueiras de Sergipe estão se preparando para marcar presença no Grito da Pesca 2021, que acontece no mês de novembro, em Brasília (DF), e reúne reivindicações das comunidades pesqueiras de todo o país.

 

 

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Autor: Redação - Lupa do Bem
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